
A psilocibina não é qualificada como uma substância altamente tóxica, bastando para tal comparar o seu LD50 com o de outras substâncias alucinogénicas. Como já foi mencionado, a psiloc ibina tem um LD50 de 280mg/kg, enquanto o LD50 do LSD e da THC (princípio ativo da cannabis) são 30mg/kg e 42mg/kg respetivamente. Além disso, considerando a morte como o ponto final da intoxicação, a psilocibina é um dos alucinógenos menos tóxicos. [1]
De seguida decorre a fase II ou reacções de conjugação as quais ocorrem mais rapidamente que as reacções de fase I. Estas reações envolvem a adição de compostos endógenos (glutationa, aminoácidos, sulfato). Com exceção da acetilação e da metilação, a conjugação torna a molécula inicial mais polar e hidrofilica facilitando a sua excreção e desta forma tornando-a menos susceptível de exercer o seu efeito tóxico.
A maioria das enzimas de conjugação estão localizadas no citosol, exceto a UDP-glucuronosiltransferase (UGT), que constitui uma enzima microssomal e que se encontra, predominantemente, no retículo endoplasmático do fígado e de outros tecidos (como por exemplo do rim, trato gastrointestinal, pulmões, prostata, glândulas mamárias, pele, cérebro, baço, e mucosa nasal). [4]

...da Psilocibina
Reação de Glucuronidação
Metabolismo da psilocina
(Os sintomas de intoxicação começam mais frequentemente após 20 a 30 min. da ingestão, atingindo o seu pico em 2h e decaindo nas 3 e 4h subsequentes. Os efeitos persistem até 8h depois, quando a maioria dos metabolitos é excretada).


Influência da clivagem do glucuronido sobre os níveis de Psilocibina em amostras de urina, de um voluntário a quem foi administrado 10mg de psilocibina. Foi medida a concentração de PI nas amostras após colheita e após a adição de beta-glucuronidase. PI: Psilocina.
Metabolismo e toxicidade...
Os efeitos farmacológicos e tóxicos dos xenobióticos dependem do genótipo e fenótipo de cada indivíduo. O polimorfismo de genes que codificam para recetores, transportadores ou enzimas está diretamente relacionado com a farmaco e toxicodinâmica bem como com as propriedades farmaco e toxicocinéticas dos xenobióticos.
Assim, para a avaliação ou previsão de todas estas variações, e para determinar qual a probabilidade de um indivíduo apresentar efeitos sintomáticos derivados da metabolização de um determinado composto, é importante conhecer quais as enzimas e as suas isoformas envolvidas nos diferentes passos metabólicos. [1]
Excreção
Análises diretas, em urinas, como a Cromatografia Líquida associada à Espetrometria de Massa (LC-MS) demonstram que a psilocina (PI) é diretamente eliminada a nível renal, em mais de 80%, sob a forma de um conjugado, Psilocina-O-glucuronido. [2],[3]. Foi demonstrado, por exemplo, que 5h após a sua ingestão, são detetadas, no soro, 71ng/ml de psilocina total e 13.3ng/ml de psilocina livre. [1]
Em vários estudos têm sido analisados os valores de PI na urina e no soro de consumidores de "cogumelos mágicos" e em voluntários saudáveis, antes e depois de adicionarem às amostras β-glucuronidase. Num desses estudos, na análise da urina não tratada foram encontrados 0,23 mg PI/l, enquanto que na urina à qual foi adicionada a enzima foram detetados 1,76 mg PI/l. As concentrações correspondentes à PI no soro foram de 0,052 mg/l (total) e 0,018 mg/l (não conjugada), respetivamente. Destes resultados se depreende, claramente, que a β-glucuronidase impede a formação do conjugado que é excretado em maior quantidade. [3]
Psilocibina
Psilocibina
Bibliografia
[1] Maurer, HH; Meyer, MR. Absorption, distribution, metabolism and excretion pharmacogenomics of drugs of abuse. Pharmacogenomics. (2011). 12 (2): 215
[2] Manevski et al. Glucuronidation of Psilocin and 4-Hydroxyindole by the Human UDP-Glucuronosyltransferases. The American Society for Pharmacology and Experimental Therapeutics; (2010). 38 (3):386–395
[3] Hasler et al. Renal excretion profiles of psilocin following oral administration of psilocybin: a controlled study in man. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis. (2002). 30 (2): 331–339
[4] Guillemette, C. Pharmacogenomics of human UDPglucuronosyltransferase enzymes. The Pharmacogenomics Journal. (2003). 3 (3):136–158
Após a sua ingestão a psilocibina é rapidamente desfosforilada por fosfatases alcalinas e esterases inespecíficas presentes na mucosa intestinal, ao seu metabolito ativo, a psilocina. A psilocina pode ser encontrada no sangue e apresenta a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica. Assim sendo, verifica-se a sua presença no cérebro apresentando-se em maiores quantidades no neocórtex, hipocampo, sistema motor extra piramidal e na formação reticular. [1]
Uma vez presente a nível cerebral a psilocina atua como agonista nos recetores 5-HT2A, sendo responsável pelos efeitos sintomáticos da psilocibina.
Biodisponibilidade
A psilocina sofre metabolização oxidativa, a nível hepático, transformando-se em 4-hidroxindol-3-acetaldeído e, subsequentemente, em ácido 4-hidroxindol-3-acético e 4-hidroxitriptofol (fase I). [2]
Reações de fase I e II
• UGTs
A familia das UDP-glucuroniltransferases (UGTs) catalisam a glucuronidação do grupo glicosilo de um açúcar dos nucleótidos, a um composto aceitador (aglicona) com um grupo nucleofílico funcional de oxigénio (por exemplo, grupos de ácido carboxílico ou hidroxilo), azoto (por exemplo, aminas), enxofre (por exemplo, tióis), e de carbono, com a formação de um produto beta-D-glucuronido.
Até ao momento foram então descritos 35 produtos derivados de genes diferentes, a partir de espécies distintas. Assim, as UGTs estão divididas em duas subfamílias distintas: UGT1 e UGT2, que por sua vez se dividem em subtipos. [4]
No contexto da metabolização da psilocina, em ensaios in vitro, a UGT1A10 é a enzima mais ativa na sua glucuronidação. No entanto, a UGT1A9 por ser mais expressa no fígado, é considerada, na realidade, a responsável pela maior parte da glucuronidação desta substância, no Homem.[2]
As técnicas utilizadas para o doseamento destes valores e determinação da presença de Psilocina têm vindo a ser desenvolvidas, sendo que para a análise forense o método mais utilizado é a Cromatografia Gasosa associada à Espetrometria de Massa (GC-MS). [3]
"The passionate desire which leads man to fly from the monotony of everyday life has instinctively made him
discover strange substances... the most powerful of these are products of the vegetable kingdom, into whose
silent growth and creative abundance man has not yet fully penetrated. They lead us on the one hand into
the darkest depths of mental instability and physical misery and on the other to hours of happiness
and a tranquil state of mind." - Louis Lewin
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