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Apresentação clínica

  Sob a influência de um alucinogénio, como é o caso da psilocibina, os consumidores vêm imagens, ouvem sons e experimentam sensações que apesar de aparentarem ser reais não o são. A psilocibina presente nos chamados "cogumelos mágicos" vai desencadear alterações a nível motor e comportamental, diminuir os reflexos e alterar a capacidade de perceção  do que se passa em redor. Vejamos em maior pormenor o que acontece…

Efeitos psicológicos

 

  A duração da “viagem” psicológica pode ir desde 2 a 6 horas. Os efeitos psicológicos que advêm do uso desta substância incluem alucinações, euforia e riso incontrolado, perda da noção de tempo, espaço, distâncias e incapacidade de discernir o que é fantasia do que é realidade. Mas esta distorção sensorial, motivo pelo qual esta susbtância é frequentemente utilizada, pode, e é muitas vezes acompanhada por sintomas menos agradáveis, como é o caso da ansiedade, inquietação, nervosismo e ainda ataques de pânico. É no entanto importante não linearizar, uma vez que se verifica uma enorme variabilidade interpessoal nos sintomas apresentados, dependendo muito das carateristicas individuais da pessoa, e essencialmente do seu estado de espírito e do propósito com que recorre a esta droga recreativa. Por vezes, surgem efeitos de longo prazo em consumidores frequentes, os quais podem incluir risco acrescido no desenvolvimento de quadros psiquiátricos e perda de memória.​[2]



Efeitos físicos

 

  Os efeitos que se verificam podem ir desde um sensação total de relaxamento muscular (semelhante à cannabis), ou mesmo fraqueza. Os efeitos físicos podem incluir também dilatação excessiva da pupila (midríase), náuseas, vómitos e tonturas. Há ainda quem reporte frequentemente alterações visuais, como ver as cores mais vivas, ter aumento da sensibilidade à luz, e ver superfícies em movimento ondulatório. Não raras vezes há um aumento moderado da frequência respiratória, da frequência cardíaca, bem como um aumento da pressão sistólica e diastólica. Este aumento de pressão arterial poderá ser um fator de risco em consumidores com problemas cardiovasculares, especialmente para aqueles com hipertensão arterial não controlada.[2]

"Más viagens"

  A sensação de experimentar na pele os piores efeitos causados por este alucinogénio é vulgarmente designada de “má viagem”. Não há dados sólidos sobre a prevalência deste tipo de experiências entre os consumidores frequentes, mas esta é sem dúvida a principal razão pela qual os consumidores de "cogumelos mágicos" visitam as urgências hospitalares. Um indivíduo intoxicado apresenta-se frequentemente agitado, confuso, extremamente ansioso, e desorientado. Estes casos agudos de toxicidade podem também ser acompanhados de sintomais ainda mais extremos, incluindo a visualização de imagens bizarras e assustadoras, paranóia e total perda da noção de realidade. Isto, por sua vez, poderá levar a acidentes, tentativa de automutilação ou até mesmo suicídio.
  Há quem defenda que estes sintomas mais marcados e o aumento da frequência de “más viagens” estão provavelmente associados ao uso concomitante de outras substâncias, por exemplo álcool. Só muito raramente se registam episódios de pânico e estados psicóticos unicamente devido ao uso de cogumelos mágicos. Mas importa ressalvar que a variabilidade interpessoal supracitada é uma realidade, pois há pessoas a quem a ingestão única desta substância pode realmente exacerbar distúrbios de personalidade e estados psicóticos.
[2]

Prognóstico e opções de tratamento

  Como já foi referido, casos de intoxicações fatais devido ao consumo exclusivo de cogumelos mágicos são francamente raros, e normalmente ocorrem devido a associações com outras drogas, principalmente o álcool.

  A necessidade de tratamento de intoxicação por psilocibina surge muitas vezes na sequência das chamadas “más viagens”, durante as quais os pacientes podem, por exemplo, automutilar-se. Os protocolos a serem seguidos passam frequentemente por providenciar uma sala silenciosa e tranquila com pouca ou nehuma fonte de estimulação sensorial. Pontualmente, são administradas benzodiazepinas ao paciente para controlar a exaltação de que padece, ou até mesmo prevenir possíveis convulsões. Outro procedimento de desintoxicação passa por administração de carvão ativado para adsorção dos alcalóides alucinogénicos, ou mesmo lavagem gástrica.

​  O papel de certos antídotos neste contexto é indeterminado e têm levantado alguma reserva uma vez que a presença de impurezas e a composição variável característica dos produtos vegetais, faz com que os antídotos possam eventualmente eles próprios piorar o quadro clínico.[1],[3]


 

Psilocibina

É a  nível cerebral que se verificam os principais efeitos da psillocibina.

Bibliografia

[1] Schenk-Jaeger et al. Mushroom poisoning: A study on circumstances of exposure and patterns of toxicity. European Journal of Internal Medicine (2012) 23 (4): e85–91

[2] Amsterdam et al. Harm potential of magic mushroom use: A review. Regulatory Toxicology and Pharmacology (2011) 59 (3), 423–429

[3] Cunningham, N. Hallucinogenic plants of abuse. Emergency Medicine Australasia (2008) 20 (2), 167–174

[4] Vollenweider et al. The neurobiology of psychedelic drugs: implications for the treatment of mood disorders. Nature Reviews Neuroscience (2010) 11, 642-651

​   A quantificação da magnitude de alteração dos estados de consciência era problemática e difícil nos primeiros anos em que se começou a fazer pesquisa com alucinogénios. No entanto, hoje em dia, existem instrumentos validados para a avaliação dos vários níveis de consciência. De acordo com Dittrich, os estados alterados de consciência induzidos pelos alucinogénios podem ser mensurados através do conceito dos cinco estados de consciência através de uma escala de classificação (5DASC). São avaliadas as chamadas cinco dimensões primárias de consciência, e as suas respetivas subdimensões. Nesta imagem em particular, onde se apresenta o grau de alteração induzido pela psilocibina consoante a dose, só estão representas 3 das 5 dimensões supracitadas. A primeira é a chamada "imensidão oceânica" (caixas cor de laranja), e refere-se à perda positiva dos limites do ego, associada a um bem estar elevado que oscila entre uma felicidade sublime e sentimentos de unidade com o meio ambiente e a natureza. Uma segunda dimensão é a chamada “desintegração do ego ansioso” (caixas roxas), que inclui transtorno de pensamento e de perda de auto-controlo. Finalmente, a terceira dimensão aqui representada dá-se pelo nome de "reestruturação visionária" (caixas azuis), que comtempla alterações de perceção (como ilusões e alucinações visuais), e alteração do significado dessas mesmas perceções. De uma forma geral, a intensidade das alteraçoes dos vários graus de consciência estão relacionados com a dose, verificando-se que, por norma, apenas em doses mais elevadas se verifica uma alteração marcada da capacidade cognitive de de perceção do indivíduo.[4]

O uso de "cogumelos mágicos" pode aumentar a susceptibilidade dos consumidores à ocorrência de acidentes.

"The passionate desire which leads man to fly from the monotony of everyday life has instinctively made him
discover strange substances... the most powerful of these are products of the vegetable kingdom, into whose
silent growth and creative abundance man has not yet fully penetrated. They lead us on the one hand into
the darkest depths of mental instability and physical misery and on the other to hours of happiness

and a tranquil state of mind." Louis Lewin

Carla Abreu │Diva Silva │ Maria Inês Sousa

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