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  Os alucinógenios constituem uma classe de compostos heterogénicos, tendo em comum a capacidade de induzirem alterações da consciência caraterizados por profundas alterações a nível do humor, raciocínio, pensamento, perceção e pelo experimentar e contatar com ambientes e sensações que de outro modo não seriam sentidas exceto talvez em sonhos, psicoses ou situações de exaltação religiosa. A substância em questão, a psilocibina, estruturalmente é uma indolalquilamina substituída com um grupo fosfato e pertence aos alucinogénicos do gupo das tripaminas [1].

  A presença desta substância e a sua potência nos diferentes cogumelos é muitíssimo variável, dependendo não só da(s) espécie(s) em questão como também da sua idade, localização geográfica e das próprias condições de crescimento. Também se pensa que a sua estabilidade seja variável e dependente do estado do fungo uma vez que, geralmente, existem quantidades superiores deste psicoativo no fungo seco, sendo que algumas espécies apresentam níveis detetáveis da substância apenas neste estado. Além disso, a psilocibina é termoestável, não sendo inativada nem pela cozedura dos cogumelos nem pelo seu congelamento.[2],[3]

  Estima-se que a dose média de psilocibina capaz de induzir efeito alucinatório esteja entre 4 a 10mg ou 50-300 µg por cada Kg de peso corporal. A quantidade mínima de cogumelos necessários para tal ronda à volta de 1g de cogumelo seco, ou 10g fresco, quando administrados por via oral. No entanto quando aplicada de forma recreativa a substância é usada em quantidades superiores, habitualmente até 5g de cogumelo seco ou até 50g do cogumelo na sua forma vital. [2]

  Estes intervalos de valores são meramente referenciativos, uma vez que, como já foi frisado, a quantidade de substância presente varia imenso sendo extremamente difícil precisar a quantidade de substância em determinado cogumelo.

Cartazes publicitários diferenciando a potência relativa de diferentes espécies de Psilocybe sp.

  Por exemplo, quer a espécie Psilocybe cubensis quer a Psilocybe semilanceata apresentam, aproximadamente, 10 mg de psilocibina por cada grama de cogumelo seco. Já a espécie que apresenta maior concentração de psilocibina é a Panaeolus cyanescens com uma percentagem total de até 1,15% do peso total do fungo. [2],[4]

  Quando administrados por via oral os cogumelos apresentam um paladar desagradável, razão pela qual existem diversificados modos de administração, desde o seu consumo em barras de chocolate até ao uso de preparações para infusão. [2]

​  Existem ainda consumidores que optam por fumar os cogumelos secos,  mencionando que embora os efeitos adventes surjam mais rapidamente apresentam-se mais moderados na sua potência. No entanto ainda não existem estudos que esclareçam esta via de administração como sendo capaz de gerar efeitos psicoativos. [5]

  Habitualmente o seu efeito inicia-se entre 10 a 60 minutos após a ingestão oral, dependendo do modo de administração, da condição física do indivíduo, da ingestão de alimentos e, também, da sua experiência enquanto consumidor, uma vez que a psilocibina induz tolerância muito rapidamente.[5]

 

   O consumo de cogumelos contendo psilocibina geralmente não apresenta graves consequências físicas e não causam dependência. Além disso, a dose letal (LD50) desta substância é de 280mg/Kg, ou seja, seriam necessários aproximadamente 17 kg de cogumelos frescos para que esta dose fosse atingida no ser humano! Compreende-se assim que dificilmente existam casos de morte por overdose de psilocibina. [2]

  Aditivamente, e como qualquer outra substância alucinogénica os efeitos da psilocibina são subjetivos e como tal imprevisíveis, sendo que o principal perigo decorrente do seu uso passa precisamente pelo seu potencial alucinogénico. Sob o seu efeito os consumidores poderão colocar-se em situações de perigo decorrentes da perda de noção da realidade, propiciando a ocorrência de acidentes potencialmente fatais ou mesmo suicídios na ausência de vigilância por alguém "sóbrio". Os principais casos fatais descritos do uso de cogumelos contendo psilocibina relatam pessoas que saltam das janelas de edifícios, muitas delas por se considerarem capazes de voar. De notar que a maioria dos exames realizados post mortem detetam o uso concomitante de álcool ou de outras drogas ilícitas como é o caso de cannabis e da heroína.[2]

  No entanto isto não significa que os “cogumelos mágicos” sejam inofensivos, até porque o seu uso é frequentemente combinado com outras substâncias de abuso, principalmente álcool, que propiciam a ocorrência de consequências mais graves.

Vendedor de cogumelos em Londres (a legislação do país apenas proibe a venda dos cogumelos secos)

Avaliação do risco

Bibliografia

[1] Passie et al. The pharmacology of psilocybin. Addiction Biology (2002). 7 (4): 357–364​

[2] von Amsterdam, J; Opperhuizen, A, van den Brink, W. Harm potential of magic mushroom use: A review. Regulatory Toxicology and Pharmacology. (2011). 59 (3) :423–429

[4] Vetulani, J. Drug addiction. Part1. Psychoactive substances in the past and presence. Polish Journal of pharmacology (2001). 33: 201-214

[3] Cunningham, N. Hallucinogenic plants of abuse. Emergency Medicine Australasia (2008),.20 (2): 167–174

[5] EMCDDA Thematic Papers —Hallucinogenic mushrooms: an emerging trend case study. (2006). European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction

[6] Balsa, C. II Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral - Portugal 2007. Instituto da droga e toxicodependêcia, I.P.

  A elevada procura destes fungos e ainda o incongruente conhecimento das espécies por parte da maioria dos consumidores poderá resultar em situações de perigo de vida devido à identificação errada de fungos. Tal poderá resultar na ingestão de outras espécies potencialmente fatais, das quais é exemplo idóneo a Amanita phalloides, responsável por cerca de 90% dos envenenamentos por cogumelos registados anualmente. [4]

  Esta espécie originária da Europa é extremamente tóxica o que se deve à presença de três tipos de toxinas: falotoxinas, virotoxinas e amatoxinas, em particular a alfa-amanitina. Estas toxinas são hepatotóxicas e os danos poderão culminar em falência hepática e eventualmente morte, isto porque o desenvolvimento tardio dos sintomas inviabiliza as principais alternativas de tratamento, pelo que numa elevada percentagem dos casos o único tratamento possível é o transplante de fígado.

Representação artística de Amanita phalloides

Prevalência do consumo

   Estudos europeus

  Segundo os dados de 2003 da ESPAD (European School Survey on Drugs and Alcohol Data) verificou-se que, em jovens europeus na faixa etária dos 15 a 16 anos, a percentagem dos que em algum ponto da sua vida já consumiram "cogumelos mágicos" variou entre 0 a 8%. Os países nos quais não foi admitido o consumo de cogumelos foram a Finlândia, România e Chipre, sendo os valores mais altos registados pela Repúblia Checa (país com uma elevada ocorrência natural destes fungos).    Quando comparado este padrão de consumo com o de ecstasy verifica-se uma menor prevalência no uso dos cogumelos, excetuando no caso da Alemanha, França e Bélgica em que o consumo de "cogumelos mágicos" é superior, e em outros seis países nos quais os consumos foram equivalentes. Em Portugal a prevalência do consumo de cogumelos mágicos registada foi de 3% e inferior ao consumo de ecstasy. [5]

Comparação da prevalência do uso (life time prevalence-LTP) de "cogumelos mágicos" e ectasy entre estudantes com 15-16 anos.

  Um outro estudo realizado no seio da população geral (dos 15 aos 24 anos) indicou que a prevalência do consumo de "cogumelos mágicos" apresentava valores semelhantes - menos de 1% a 8% - tendo a República Checa, Holanda, Alemanha, Irlanda e Reino Unido demonstrado um maior padrão de consumo. No entanto o mesmo apenas se realizou em 12 Estados Membros, não tendo Portugal sido incluído no mesmo.[5]

  Os resultados obtidos demonstraram que o consumo de "cogumelos mágicos" na população portuguesa verificava-se predominantemente no género masculino. Em relação ao estudo diferencial do consumo por faixas estárias verificou-se que o gráfico em questão apresenta uma pico de consumo na barra correspondente aos 25-34 anos, sendo que a partir desta idade a utilização deste tipo de substâncias ilícitas diminui de forma significativa.

   Nós por cá...

   No ano de 2007 foi realizado o II Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Portuguesa  levado a cabo pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Este estudo contou com a participação de populares residentes no continente e ilhas, com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos tendo sido obtida uma amostragem total de 15000 pessoas.[6]

Prevalência do consumo de "cogumelos mágicos" ao longo da vida por género e faixa etária 

Psilocibina

Uso da psilocibina

Psilocibina

"The passionate desire which leads man to fly from the monotony of everyday life has instinctively made him
discover strange substances... the most powerful of these are products of the vegetable kingdom, into whose
silent growth and creative abundance man has not yet fully penetrated. They lead us on the one hand into
the darkest depths of mental instability and physical misery and on the other to hours of happiness

and a tranquil state of mind." Louis Lewin

Carla Abreu │Diva Silva │ Maria Inês Sousa

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